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Luiz Fernando Malheiro pede demissão do Teatro Municipal

'Não posso permanecer sendo regente titular de uma orquestra que não existe mais', diz maestro, em mais um capítulo da crise que afeta o principal palco da cidade
RS - Maestro Luiz Fernando Malheiro da OSB Foto: RUMEN KOYNOV / Divulgação
RS - Maestro Luiz Fernando Malheiro da OSB Foto: RUMEN KOYNOV / Divulgação

RIO - O maestro Luiz Fernando Malheiro não é mais o regente titular da Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal. Ele pediu demissão na segunda-feira (13), em mais um capítulo da crise que afeta a instituição. Prestes a completar 110 anos (em 14 de julho), o principal palco da cidade teve seu orçamento de 2019 reduzido em 46,37% , o que representa R$ 45 milhões dos R$ 96,1 milhões originalmente destinados. Malheiro havia sido nomeado em janeiro.

Em comunicado enviado à imprensa, Malheiro explicou que sua decisão não foi em razão do corte ("Essa nova informação apenas fortaleceu minha decisão", diz a nota). O maestro conta que encontrou "um deprimente estado de deterioração, física, institucional e psicológica no Theatro", com corpos artísticos desfalcados:

"Não posso permanecer sendo Regente Titular de uma orquestra que não existe mais, da maneira que consta em regulamento. Com o desproporcional e incompleto quadro atual de músicos nenhum repertório que não seja clássico, Mozart no máximo como exemplo, pode ser executado sem a contratação de um número significativo de músicos extras, onerando a verba de programação, que até agora não existe. Esses desfalques de artistas acontecem também no Coral do Theatro e no aclamado Balé que sem contratar bailarinos extras, não consegue montar nenhum grande título do repertório".

Malheiro diz que tentou resolver a situação propondo a contratação de artistas por longos períodos, "já que concurso público no momento está fora de questão". Seu pedido, conta, foi ignorado. "Mesmo para se contratar músicos de qualidade por concerto, a OSTM tem encontrado dificuldade, já que o Theatro goza de péssima fama, como mau pagador", afirma o comunicado, notando que "existem dívidas com músicos que participaram de programações em 2017 e que até agora não receberam".

"O Theatro não pode ser tratado como uma repartição pública qualquer"

O maestro argumenta em seu texto que o Municipal "não pode ser tratado como uma repartição pública qualquer". E encerra: "Com muita tristeza me afasto por não acreditar que minha permanência possa mudar algo de maneira positiva e por não querer ser conivente com a maneira como as coisas do Theatro estão sendo tratadas pela atual administração".

Em março, o maestro regeu a orquestra e o coro do Municipal na ópera "Condor", de Carlos Gomes. A apresentação por pouco não aconteceu devido a problemas no ar-condicionado da casa. A informação foi revelada também nesta segunda-feira pelo violinista Ayran Nicodemo, durante uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Rio, que discutia o corte orçamentário.

Malheiro é diretor artístico e regente titular da Orquestra Amazonas Filarmônica e diretor artístico do Festival Amazonas de Ópera. Também já ocupou os mesmos cargos no Teatro São Pedro, em São Paulo. O maestro venceu o Prêmio Carlos Gomes na categoria Regente de Ópera em 2009, 2011 e 2012.

Entre as orquestras que já regeu pelo mundo estão a Orquestra Sinfônica de Roma, Orchestra Filarmônica Marchigiana, Orquestra da Ópera Nacional de Sófia e Filarmônica do México. No Brasil, esteve à frente da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo, Orquestra Sinfônica Brasileira, Osesp e Orquestra Sinfônica da Bahia, entre outras.

Procurado, o Teatro Municipal ainda não se manifestou sobre a demissão de Malheiro.